quarta-feira, 10 de julho de 2013

"Rain Man" em versão brasileira


"Marcelo Serrado é o cara!"
Era tudo que eu consegui pensar ao sair do Teatro dos Quatro - no shopping da Gávea, Rio - no domingo, um dia antes da estreia oficial do espetáculo Rain Man. E esse parecia ser um pensamento comum à todo público! (Mas isso não significa que os outros atores também não fizeram bem a sua parte - ao contrário. Já falo deles!)
O fato é que Raymond, autista com síndrome de Savant, ganhou brilho especial interpretado por Marcelo. E o mérito é todo dele! A peça é a adaptação para o teatro de um filme de 1988, de mesmo nome, premiado em quatro categorias do Oscar. O texto é bem fiel ao original e a tradução de Miguel Paiva foi muito bem feita. Mas Marcelo dá a seu personagem mais que isso. Sua expressão, seu olhar, seu corpo... Tudo fala por ele! Arrisco dizer, inclusive, que a versão brasileira de Raymond é ainda mais apaixonante do que a original, vivida por Dustin Hoffman.
Aliás, essa é uma característica de todos eles. Tá certo que o teatro faz isso com a gente: estar ali, perto do ator, vendo tudo acontecer sem filtro e sem efeito especial deixa a gente muito mais envolvido. Mas levando em consideração a distância que a narrativa impunha - com nomes e referências que não fazem parte da nossa cultura - cativar o público podia ser uma tarefa difícil. Mas não foi! E é aqui que eu deixo o meu elogio aos demais.
Rafael Infante impõe um ritmo acelerado à Charlie Babbitt, o egocêntrico irmão caçula de Raymond, que só se aproxima dele visando a herança que seu pai deixou ao primogênito. Ele é ainda mais áspero e mais exaltado do que o Charlie que ganhou as telas com Tom Cruise. 
Fernanda Paes Leme - que dá vida à Susan, namorada de Charlie - tinha tudo para ser só uma peça de composição de cenário, um personagem secundário, mas protagoniza uma das cenas mais bonitas da peça: quando ela beija Raymond, não dá para não se emocionar! No filme, a cena não tem a mesma graça, passa quase despercebida. A maneira maternal com que Fernanda conduz a sua personagem, sobretudo nessa hora, faz toda diferença!
Com os nomes do elenco somados ao do diretor de José Wilker, é normal que a gente vá esperando uma dose cavalar de humor. Afinal, Serrado ficou marcado como o amado Crôdoaldo Valério ("Fina Estampa", 2012), Infante é um dos destaques do "Porta dos fundos" e Wilker imortalizou Giovanni Improtta ("Senhora do Destino", 2005). E a peça faz a gente rir, sim. Mas não da maneira como fizeram todos esses exemplos acima. É um humor suave, despretensioso, quase infantil. Tá nos detalhes, na inocência de Raymond e na acidez de Charlie. É um humor reflexivo, eu diria. E explico o porquê.
Rain Man é um drama. Nessa montagem, não um drama tão convencional mas, mesmo assim, um drama "de primeira". Fala diretamente sobre ego, família e amor, através de situações e diálogos inusitados - e  para quem não conhece a história, surpreendentes.
Mesmo para quem assistiu o filme, a peça vale a pena. Tem outro tom e se passa 20 anos a frente da história contada no cinema, o que gera algumas mudanças no enredo. 
Além disso, ver tudo em versão "minimalista" - com menos cenas, poucos elementos cenográficos e figurino simples - faz a gente perceber de outra forma a história. Vai lá conferir!
A peça fica em cartaz até o dia primeiro de setembro, de quinta a domingo.


Um comentário:

  1. Também saí encantada com a atuação de Marcelo Serrado. Valeu a oportunidade de constatar o seu talento, dando um brilho especial à peça.

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